À espera de um milagre

À espera de um milagre
Quando o FC Porto defrontou o Vit. Guimarães para a Supertaça de Portugal, poucos foram os adeptos que imaginaram a possibilidade de os azuis e brancos demonstrarem tamanhas fragilidades como as que tem apresentado. Uma coisa é certa: este é o pior plantel - na medida em que não possui as mesmas armas - do FC Porto, nos últimos anos. Paulo Fonseca não pode acarretar com todas as culpas. O que não quer dizer que esteja isento delas. Porque não está.

Um dos alertas lançado à partida foi precisamente a necessidade de encontrar alguém capaz desequilibrar nas alas após a saída de James Rodríguez (Varela já tinha lugar cativo do outro lado do campo). Exigia-se alguém dotado tecnicamente, como o colombiano. Quem ocuparia a vaga? Iturbe? Kelvin? Quintero? O primeiro, e talvez mais natural candidato à vaga, foi emprestado, o segundo continua a não receber oportunidades, o terceiro ia entrando a tempos no início da época (agora nem isso). A aposta acabou por recair em Licá (começou bem a temporada mas as suas limitações são evidentes) e Josué (tem lugar cativo neste plantel, mas não naquela posição). Quaresma ainda foi contratado para debelar danos e tem sido o extremo mais inconformado do FC Porto. Mas não tem chegado.

Ao se falar na transferência de James é necessário falar na de Moutinho. O português era a peça-chave do meio-campo. Pressionava, construía, corria quilómetros e era o principal pulmão do sector intermediário dos azuis e brancos. Agora não existe ninguém que esteja ao nível (ou desempenhe as funções) de Moutinho. Herrera não tem a sua categoria e Defour, não tendo também a qualidade do internacional português, continua a não entrar no onze. Como se já não bastasse a brecha deixada pela sua saída, a transferência de Lucho acentuou os problemas tácticos de Paulo Fonseca. Fernando tem tentado aguentar o meio-campo como pode - mesmo jogando fora do seu habitat natural, o "Polvo" tem sido um dos poucos destaques positivos desta equipa. Mas não tem chegado.

Os problemas dentro das quatro linhas acumulam-se. Mas a maior culpa que Paulo Fonseca tem relativamente a esta época medíocre do FC Porto regista-se precisamente fora dos relvados. O FC Porto já perdia antes da época ter início. Perdia peças-chave do seu esquema e não as substituía. Perdia na confiança que não depositava nos substitutos dessas peças-chave. A questão da renovação de Fernando, a transferência de Otamendi e a perda de um símbolo como Lucho foram os expoentes máximos de uma gestão longe de ser perfeita. E o clube ressente-se. Não deixa de ser curioso registar que, desde o fecho do mercado de Inverno, o FC Porto apenas tem três vitórias em sete partidas. Os jogadores sentem que o treinador não vive intensamente os jogos e não tem a mesma paixão pelo clube como os técnicos anteriores (AVB e Vítor Pereira) tinham. Sentem que os adeptos não estão contentes com a sua exibição e que os assobios são cada vez mais frequentes. Sentem que as exibições estão longe de ser perfeitas. Sentem que o campeonato está a fugir. E Paulo Fonseca tem consciência do que se passa. Vai tentando fazer o seu melhor, com "confiança cega" no seu trabalho, esperando por um milagre. Mas não tem chegado.

Portugal no Grupo I (menos jogos + 2 amigáveis com a França)

A Portugal saiu a fava de ficar no último grupo do Euro'2016, o mesmo que dizer que irá defrontar apenas quatro equipas na fase de qualificação e a França, anfitriã do torneio, em dois amigáveis. O grupo I é então constituído por Portugal, alocado como cabeça-de-série, e por Dinamarca, Sérvia, Arménia e Albânia. Nos restantes grupos, o único cabeça-de-série com uma tarefa teoricamente mais complicada é a Holanda, no grupo A (República Checa e Turquia estarão na luta por uma vaga).

Era (quase) impossível este sorteio correr mal. A verdade é que ter Sérvia e Dinamarca pela frente nunca deverá ser encarado como missão acessível. Tendo em conta a qualidade e potencial das selecções neste momento, Portugal continua a ter a obrigação de ficar em primeiro lugar (quantas vezes isto já foi dito...). Ainda assim, e considerando que o Euro'2016 poderá ser encarado como uma transição/renovação do plantel nacional, o facto de ter dois amigáveis com a França em detrimento de dois jogos com cariz mais competitivo, ainda para mais frente a uma selecção certamente mais fraca, não parece ser o melhor cenário para Portugal. Os amigáveis são sempre um bom teste mas raramente as mentalidades e desejo de vencer a todo o custo está presente nessas partidas (defrontar a França, "besta negra" da Selecção, poderá, no entanto, ser um incentivo). Resumindo: Portugal tem todas as condições para passar - já o tinha antes do sorteio começar - e, como tal, deve dar início a um novo ciclo dando lugar aos mais jovens (elementos como Bruma, Rony Lopes, Bruno Fernandes, Rafa, Mané, André Gomes, Cédric dificilmente serão convocados ou terão minutos no Mundial'2014) em jogos com menor pressão.

Walter e Alan Kardec: nova oportunidade?

Falta de oportunidades (no sentido em que necessitavam de mais tempo de jogo)? Ou escassez de qualidade para um campeonato mais competitivo, como é o português (as mentalidades e realidades tácticas são completamente diferentes)? Certo é que Walter e Alan Kardec têm estado em destaque desde que regressaram ao Brasil e a imprensa até já os inclui como potenciais candidatos a integrar a convocatória de Scolari para o Mundial'2014. O ex-portista tem sido um "reforço de peso" - tem respeitado uma dieta própria para resolver esse problema - uma vez que já apontou 3 golos em cerca de 30 minutos com a camisola do Fluminense (entrou no último quarto de hora nas partidas frente a Flamengo e Boavista-RJ). Já o jogador cedido pelo Benfica ao Palmeiras, clube que ajudou a marcar presença na próxima edição do Brasileirão, leva 5 golos em 9 jogos, este ano, o que poderá levar os dirigentes do clube verde e branco a activar a cláusula de compra do ponta-de-lança. Apesar de ainda estarmos numa fase prematura da época - jogos estaduais não têm metade da competitividade do campeonato a sério -, Walter e Alan Kardec se têm exibido a bom nível, algo que raramente conseguiram fazer em Portugal. Será este o início de uma nova etapa nas suas carreiras?