A saída de Paulo Bento: O timing (parte I)

Já houve mais que tempo para digerir a inexplicável derrota de Portugal perante a Albânia, equipa mais fraca do grupo de apuramento para o Euro'2016, e o anúncio do técnico que irá suceder a Paulo Bento no cargo de Seleccionador Nacional já não deve tardar. Ainda assim, convém deixar uma ou duas notas face a esta decisão da FPF, principal responsável pelo acumular de desgostos vividos nos últimos meses.


Recuemos ligeiramente no tempo. Portugal acabara de ser eliminado pela Espanha nos oitavos-de-final do Mundial'2010 com um golo irregular de David Villa. Carlos Queiroz abandonara o cargo em virtude da prestação lusa na competição que decorrera na África do Sul e Agostinho Oliveira seria o próximo homem ao leme da Selecção Nacional. A coisa não corre bem. Portugal, em dois jogos da fase de qualificação para o Euro'2012, perde quatro pontos contra adversários bem menos cotados. O apuramento complicara-se em demasia e o jogo seguinte seria contra a Dinamarca, adversário directo no grupo. É aqui que entra Paulo Bento. Portugal exibe a partir de então uma atitude bem diferente da que vinha evidenciando e Nani e Ronaldo, que, diga-se em bom da verdade, havia falhado os dois jogos anteriores, oferecem a vitória a Paulo Bento na sua estreia. A partir de então a Selecção Nacional só perdeu pontos na Dinamarca (derrota por 2-1), o suficiente para disputar o playoff de acesso à fase seguinte. Atropelámos a Bósnia-Herzegovina e carimbámos a nossa presença na fase final da competição, onde voltámos a ser eliminados pela Espanha - aquela que entretanto havíamos goleado por 4-0 num amigável -, desta feita na terrível sorte dos penáltis de uma meia-final. O balanço que ficou deste primeiro grande desafio de Paulo Bento enquanto Seleccionador Nacional foi o de esperança recuperada. A recuperação na fase de apuramento foi muito boa e a prestação no Euro'2012 não ficou aquém das expectativas. Muito pelo contrário. Restava dar continuidade ao bom trabalho.

Paulo Bento devia ter permanecido após o Mundial?
Infelizmente, a partir daqui o caso mudou de figura... Depois de duas vitórias na fase de qualificação para o Mundial'2014, Portugal era derrotado na Rússia (1-0), único adversário de respeito no seu grupo. Até aqui nada de muito grave. Bastaria dar a volta e vencer os restantes jogos, já que era essa a nossa obrigação. Porém, não foi isso que aconteceu. Portugal somou exibições fracas a pontos perdidos e quedou-se pela carruagem dos segundos classificados. Contudo, o Brasil não passou a ser miragem - valeu Ronaldo, sobretudo! Paulo Bento mudara por completo o seu estatuto por não ter ficado no topo de um grupo demasiado acessível. Acabara-se a sua margem de manobra. E eis que a FPF comete o seu primeiro erro crasso. Em Abril de 2014, meses antes de o Mundial começar, o vínculo de Paulo Bento com a Selecção foi renovado até 2016. A FPF depositava, assim, uma enorme confiança num treinador que não convenceu durante os jogos de qualificação para a grande competição entre selecções à escala global e o resultado, inevitavelmente, acabou por ser desastroso. Portugal, nos jogos amigáveis que antecediam a competição, não convencia - aqueles 5-1 à República da Irlanda foram uma ilusão tremendamente grande -, o estado clínico da sua estrela permanecia uma incógnita e até mesmo a preparação portuguesa foi questionada antes sequer da equipa aterrar no Brasil. A partir daqui todos nós sabemos a história. As exibições medíocres, que se vinham a arrastar há já vários meses, a vaga de lesões inexplicável, os "ses" que ficaram após o jogo com o Gana e um sentimento de desilusão que culminou com uma chuva de críticas. A prematura renovação de contrato começava agora a pesar no subconsciente dos responsáveis da FPF. Ou talvez não.

Voltemos ao presente. Paulo Bento cá esteve, em Aveiro, para comandar a nossa Selecção após o fracasso no Mundial'2014. O voto de confiança era enorme. Pela frente estava a Albânia, contra quem não se avizinhavam grandes dificuldades. Mas o futebol da nossa Selecção voltou a ser muito pobre e fomos surpreendidos em casa. Os lenços brancos compunham as bancadas do Estádio Municipal de Aveiro, à medida que Paulo Bento fazia contas à vida. Esperava-se que a FPF anunciasse o despedimento de Paulo Bento no dia seguinte, o mais tardar. Mas tal não aconteceu. Foram necessários quatro dias para que a decisão fosse finalmente tomada. O que apenas revela insegurança por parte da estrutura que melhor devia saber o que fazer nestes casos. Pior do que o trabalho dos jogadores ou do treinador, foi a inércia da FPF face ao que aconteceu desde o Mundial'2014. Coloca-se agora um novo desafio: encontrar o sucessor. Ao que parece quatro dias não foram suficientes para se traçar o perfil do novo seleccionador. Convém relembrar que os próximos compromissos da Selecção - amigável com a França e jogo na Dinamarca - estão à distância de um mês.
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