Benfica 2014/15: O tão ambicionado bicampeonato

Novo "triplete". Uma tarefa certamente mais árdua devido à saída de vários titulares ao longo dos últimos meses. A Supertaça Nacional substituiu a Taça de Portugal, a hegemonia na Taça da Liga continua e o jejum de 31 anos sem um bicampeonato conheceu o seu fim. Pelo meio, a pior prestação dos últimos anos nas competições europeias.

Depois de uma pré-época desastrosa, muitas foram as incógnitas em torno do Benfica. No entanto, o campeão em título desde cedo ocupou a liderança da Liga e de lá não saiu até ao seu término. Até lá, e repetindo um pouco o balanço já feito anteriormente, a vitória no Dragão (deu confiança e margem de segurança) e o empate dramático em Alvalade (numa altura em que ainda havia três candidatos ao título), o crescimento de vários jogadores e a aposta certeira em determinadas contratações (os números de Júlio César e Jonas, por exemplo, impressionaram), a maneira como o clube soube explorar a ideia de "manto protector" como resposta às declarações dos rivais (importante na união equipa/adeptos) e a forma como a equipa jogou de forma entrosada e confiante (sem lesões à mistura, o Benfica esteve imparável na segunda metade da época) contribuíram para um novo sucesso colectivo do emblema lisboeta. Com o melhor ataque e segunda melhor defesa do campeonato, o Benfica, cujas escorregadelas na Liga foram atenuadas pelos deslizes dos rivais, soube gerir a diferença pontual e aproveitar a saída precoce da Liga dos Campeões (prestação medíocre de uma equipa que ainda estava em fase de adaptação) para se exibir a bom nível nas competições internas.

Se o mérito do título do ano passado é de Luís Filipe Vieira, pela forma como aguentou Jorge Jesus no cargo, o deste ano pertence ao treinador. Perder sete titulares indiscutíveis no espaço de um ano, cinco deles numa janela de transferências, e manter a equipa com um nível de jogo elevado não é fácil. Não surpreende, portanto, que o Benfica tenha sete jogadores na "Equipa Ideal" publicada há uns dias. Mas o desafio das águias cresce a partir de agora: para além das eventuais mexidas do mercado, a saída de Jorge Jesus, técnico com mais títulos em toda a história do Benfica, irá certamente pesar. Caberá agora a Rui Vitória a tarefa de oferecer novas alegrias aos adeptos.

FC Porto 2014/15: Do berço para o colinho e do colinho para o berço

Ano em branco para o FC Porto. Os azuis e brancos foram obrigados a correr atrás do prejuízo desde muito cedo e vacilaram em jogos importantes. A Liga dos Campeões, tirando a goleada sofrida em Munique, acabou por ser o mal-menor a nível de competições.

Já se sabia de antemão que o FC Porto, numa tentativa de corrigir os erros da época anterior, iria ter uma nova identidade com a chegada de Lopetegui. No entanto, após boas indicações nos primeiros jogos oficiais, os dragões cedo viram o primeiro lugar do campeonato à distância, fruto de três empates consecutivos (Vit. Guimarães, Boavista e Sporting). E foi precisamente na "Cidade Berço" que tudo começou e acabou. O primeiro desaire do técnico espanhol levou-o a tecer duras críticas, quer aos adversários quer à arbitragem, algo recorrente ao longo da temporada - inclusive incentivou o Benfica a promover a campanha "Colinho" -, e os adeptos acusaram-no de rodar o plantel em demasia. A derrota diante do Benfica no Estádio do Dragão (0-2), que podia permitir a aproximação ao rival antes da paragem temporária do campeonato, embalou os encarnados, que encararam o jogo da segunda volta (0-0) de uma maneira diferente (importava não perder) e beneficiaram de alguma apatia dos rivais do Norte nesse encontro para se aproximarem do título. No espaço de uma semana, o FC Porto era humilhado e afastado da Liga dos Campeões - prova em que até se exibiu a bom nível - e criava condições ao Benfica para conquistar o bicampeonato. Mantendo a toada do que foi sucedendo ao longo da segunda volta da Liga, um novo deslize do Benfica, desta vez em Guimarães, foi atenuado pelo empate do FC Porto em Belém que, assim, consumou oficialmente a primeira temporada em branco desde 1988/89.

Uma época sem títulos tem obrigatoriamente de ser considerada um fracasso. Ainda para mais com a qualidade que Lopetegui tinha ao seu dispor. A incapacidade da equipa em sair da Madeira sem uma vitória (em três jogos) e, sobretudo, de não demonstrar o seu potencial nos jogos mais importantes da temporada (o jogo em casa frente ao Sporting foi, talvez, a única excepção) foram factores fundamentais para o insucesso portista. Mas, alargando o prisma, o FC Porto não parte em desvantagem para a nova época: a saída de jogadores-chave (Danilo e Jackson Martínez) já era esperada e teve tempo de ser acautelada, o encaixe financeiro em 2014/15 foi significativo e o treinador, e consequentemente as ideias de jogo, será o mesmo, algo que não acontece com os outros rivais directos. Prevê-se mais um ano de "tudo ou nada". Última oportunidade para o basco?

Sporting 2014/15: O regresso aos títulos

Embora tenha ficado em 3º lugar no campeonato, uma posição abaixo do que se havia verificado em 2013/14, o Sporting voltou a conquistar um título (Taça de Portugal) sete anos depois. Apesar desse momento mais positivo, a temporada verde e branca ficou marcada pela divergência entre Bruno de Carvalho e Marco Silva, que culminou com o despedimento do técnico.

O arranque menos conseguido do Sporting na Liga acabou por ditar a sua sorte na competição. Tendo uma equipa jovem como base, em que a experiência do retornado Nani era uma das escassas excepções, o Sporting praticava um futebol bastante agradável do ponto de vista de posse e de balanço ofensivo (foi a equipa com mais remates em toda a Liga, apesar de ter sido apenas o 3º melhor ataque da prova), embora com graves lacunas defensivas, o sector que mais meteu água durante a época, inadmissíveis para quem ambiciona ser campeão (o registo de 103 cartões amarelos e 10 vermelhos ajuda a comprovar a ideia). Se os empates com Benfica e FC Porto não foram percalços de maior, o mesmo não se pode dizer de outros jogos no primeiro terço do campeonato. Mesmo sem ter averbado qualquer derrota em casa, os empates diante de equipas de meio da tabela atrasaram imenso o clube leonino na luta pelo título. E é mais ou menos a partir desta altura, final de 2014, que o caso ganha novos contornos. Eliminação injusta na Liga dos Campeões, blackout e o rumor do despedimento de Marco Silva. O treinador, porém, não se deixou abalar e esteve a segundos de alcançar os seus rivais directos. No entanto, o golo de Jardel (Benfica) no último minuto foi fatal para os leões, que logo a seguir foram eliminados das competições europeias e vergados pelo FC Porto. Após algumas semanas a garantir o 3º lugar e a cumprir calendário, a Taça de Portugal, pelo trajecto até à final, acabou por ser um prémio merecido para o Sporting.

O Sporting 2014/15, é certo, não se resumiu a Marco Silva. Nem mais uma vez ao ego de Bruno de Carvalho. Pelas exibições, pelo troféu conquistado (e mérito nessa mesma conquista) e pela forma como tirou o melhor de alguns jogadores (Carrillo, João Mário e Paulo Oliveira evoluíram bastante) e como lidou com a pressão interna, Marco Silva saiu injustamente pela "porta pequena". O plantel era bastante limitado quando comparado com o dos outros dois rivais mas fez um trabalho competente pese os erros individuais, daí que o 3º lugar não possa ser encarado como uma desilusão e o regresso aos títulos mereça o devido destaque. A partir de 2015/16 será a vez de Jorge Jesus assumir o cargo.

Académica 2014/15: José Viterbo evitou que "se desse um bigode"

A Académica viveu uma das épocas mais atribuladas desde que regressou ao principal escalão do futebol nacional há 13 anos e o 15º lugar com que terminou o campeonato, que não traduz necessariamente o verdadeiro valor do colectivo, espelha bem a qualidade do futebol praticado pelos estudantes.

Depois de um empate caseiro com o Sporting na jornada inaugural, a Académica começou a tornar-se cada vez mais irregular - a lesão de João Real na 2ª jornada apenas agravou a situação - e Paulo Sérgio, uma das piores apostas da Direcção no que a treinadores diz respeito, nunca demonstrou aptidão para inverter o rumo dos acontecimentos e ficou associado ao pior registo caseiro em toda a história da Académica na Liga (14 jogos consecutivos sem vencer). Eliminação precoce na Taça de Portugal, escassez de objectividade e qualidade no futebol praticado e zona de despromoção como "casa" durante várias jornadas, incluindo aquela que marcou a sua despedida, Paulo Sérgio abandonou, sem surpresas, e porventura tardiamente, o seu cargo. Após incógnitas quanto à sucessão, foi a "prata da casa" a deixar as coisas no seu devido lugar e a merecer a confiança de todos até ao término da época - José Viterbo, o "Homem do Bigode" para os adeptos, teve uma estreia de sonho, conquistando 12 pontos em seis jogos (nenhuma derrota pelo meio, registo apenas superado por Dezso Gencsy em 1949/50) e catapultando a Académica para o 14º lugar. O problema veio a seguir... Se é justo afirmar que a chegada de José Viterbo revitalizou animicamente a equipa, certo é que as exibições não foram as mais convincentes e a série de dez jogos consecutivos sem vencer com que a Briosa terminou o campeonato apenas acentuou algumas dúvidas em torno da sua continuidade. Para já, parte para 2015/16 com a certeza de que há confiança no seu trabalho.

Olhando para os factos de uma forma objectiva, José Viterbo foi, indubitavelmente, o grande destaque da Académica 2014/15 pela forma como tirou a equipa da zona de despromoção perante um cenário bastante complicado. Mas o balanço da temporada da Académica é claramente negativo. Desde logo pela posição ocupada na tabela ao fim dos 34 jogos (15º lugar) - a pior desde 2002/03, época que sucedeu o regresso à Primeira Liga - pela qualidade geral das exibições (as quatro vitórias no campeonato, um mínimo na Liga, espelham bem essa ideia) e pela incapacidade de fazer frente às equipas que lutavam para não descer (apenas uma vitória, em dez jogos, diante das restantes cinco equipas que terminaram o campeonato com menos de 35 pontos). Igualmente impressionante foi a quantidade absurda de empates (17), a maior da Europa a nível percentual (em termos absolutos apenas foi superada pelo Empoli, 18).