2015 e o Desporto Nacional: O Momento (parte IV)

Mais um ano em grande para o desporto nacional... Não é fácil restringir os sucessos de 2015 a apenas um momento. Todavia, pela superação individual e pelos fantásticos resultados obtidos, a primeira edição dos Jogos Europeus deixará, certamente, boas recordações a vários atletas lusos e um sentimento de esperança a menos de um ano dos Jogos Olímpicos.

13 de Junho. Baku, Azerbaijão. Nem o calor que se faz sentir a horas do início do evento retira concentração nem esperança aos atletas nacionais. Ambicionam-se grandes prestações e almejam-se medalhas. Depois de um primeiro dia em branco, Portugal estreia-se entre os medalhados graças à excelente recuperação de João Silva, prata no triatlo. A bandeira nacional ergue-se pela primeira vez numa edição dos Jogos Europeus. O orgulho é por demais evidente.

Mas seria no dia 15 que o ouro se juntaria à colecção dos portugueses. A Selecção Nacional de Ténis de Mesa, formada por Marcos Freitas, Tiago Apolónia e João Geraldo, bate a França na final (3-1) e sobe ao mais alto lugar do pódio. Deseja-se que tal feito motive os restantes compatriotas. Horas antes, Fernando Pimenta confirmara a sua qualidade e arrecadara a prata em K1 1.000m, a milésimos do vencedor. Feito que viria a repetir no dia seguinte, em K1 5.000m, onde a vontade falou mais alto que o cansaço acumulado. O sol não se deita sem que antes Rui Bragança sofra para arrecadar nova medalha de ouro, no taekwondo (-58kg). Foi até ao último segundo. Transpira-se alívio. Com esta já são cinco medalhas no espaço de três dias. Muito bom. E apenas íamos a meio...

Novo dia, nova medalha. O porta-estandarte João Costa sobrevive à pressão inerente e dispara certeiro para a prata na categoria de pistola a 10m. Sexta medalha. Quatro dias consecutivos a somar conquistas. E como "não há quatro sem cinco", o desempate por ponto de ouro atribui o bronze a Júlio Ferreira (-80kg), segunda condecoração do taekwondo, autor de um percurso notável nestes Jogos Europeus. Seguem-se dois dias de descanso. Quanto às medalhas, claro. A 21 de Junho retoma-se o ciclo. A dupla Ana Rente / Beatriz Martins é medalha de bronze na prova de trampolins sincronizados, a apenas uma décima do segundo posto, e tornam-se nas primeiras atletas femininas portuguesas medalhadas em Baku. Até ao fim do torneio, mais um ouro e um bronze para as cores nacionais. A judoca Telma Monteiro, pentacampeã europeia, ultrapassou estoicamente a sua lesão e venceu a competição de -57kg, enquanto que a perseverança da Selecção Nacional de Futebol de Praia valeu-nos o terceiro lugar na despedida a Baku, depois de mais um jogo épico diante da Suíça.

Entre várias finais disputadas, registos individuais superados e Top-10 alcançados, a prestação de Portugal nos I Jogos Europeus encerrava com 10 medalhas (três de ouro, quatro de prata e três de bronze). Uma prestação que, assim, superava as expectativas dos membros do Comité Olímpico e que sublinhava a boa preparação que está a ser feita rumo aos Jogos Olímpicos. Espera-se, agora, que os Jogos Europeus constituam um estímulo adicional para os nossos atletas e que possamos sair do Brasil com várias medalhas ao peito. Talento, como ficou comprovado, existe. Resta sonhar alto e acreditar.

Saímos daqui satisfeitos, com 10 medalhas em oito modalidades. Honrámos Portugal. Honrámos a nossa bandeira, não só pelos resultados, mas também pelo comportamento. Só posso estar grato pelo facto de ter estado a liderar esta equipa. [José Garcia, Chefe de Missão de Portugal nos Jogos Europeus]

E se é justo destacar a prestação lusa nos "Jogos Olímpicos Europeus", merece também uma menção honrosa a campanha dos jovens portuguesas nas Universíadas de Gwangju, de onde saímos com quatro medalhas - a Selecção Universitária de Andebol amealhou o ouro, Rui Bragança e Joana Cunha arrecadaram a prata no taekwondo e Ana Filipa Martins coroou mais um ano em grande com uma medalha de bronze. O ano que agora termina ficará recordado não só pelas conquistas, mas também por alguns regressos em grande (Nélson Évora) e algumas tristes despedidas (Naide Gomes). Dito isto, a eleição de Momento de 2015 recai sobre os Jogos Europeus de Baku'2015.

Jonas entre os principais goleadores de 2015

Depois de um ano de estreia ao mais alto nível, marcado pela hegemonia interna do Benfica, seu clube, parecem faltar adjectivos para descrever o impacto de Jonas no nosso campeonato. Um dos melhores jogadores do bicampeonato dos encarnados, e actual melhor marcador da prova, o avançado brasileiro inscreveu, em 2015, o seu nome entre os principais protagonistas do desporto-rei apontando 31 golos no campeonato, apenas superado pelos incontornáveis Cristiano Ronaldo (37) e Lionel Messi (34). Um registo verdadeiramente impressionante para um jogador do campeonato português.

No que diz respeito aos seis principais campeonatos europeus, Cristiano Ronaldo liderou a lista de melhores marcadores, embora tenha disputado mais partidas que o seu eterno rival, Messi, detalhe que se reflecte na média de golos por jogo - 0,97 do português, face aos 1,03 do argentino, o único dos principais goleadores com mais golos do que jogos. Segue-se então Jonas, com 31 golos em 32 jogos, incluindo quatro de grande penalidade, ligeiramente à frente do uruguaio Luís Suárez, com 29 golos na Liga Espanhola, e de Aubameyang, que também apontou 29 tentos na Bundesliga ao serviço do Borussia Dortmund, que assim fecham o Top-5. Para além de Higuaín e Harry Kane, ambos com 27 golos, apenas mais quatro avançados conseguiram superar a barreira dos 25 golos nas respectivas ligas, no presente ano civil: Ibrahimovic (26), Neymar (25), Lewandowski (25) e Griezmann (25).

Dos 31 golos de Jonas na Liga, apenas 8 foram marcados longe do Estádio da Luz, sendo que Académica e Belenenses, cada um com quatro golos encaixados, foram as suas vítimas predilectas. O registo goleador de Jonas funcionou, curiosamente, como um talismã para o Benfica, uma vez que o clube encarnado somou os três pontos em todos os encontros em que o avançado fez o gosto ao pé. Numa estatística mais geral de 2015, o número 17 das águias participou em 45 jogos, em todas as competições, fazendo balançar as redes adversárias em 36 ocasiões diferentes e contribuindo com mais 11 assistências.

2015 e o Desporto Nacional: O Treinador (parte III)

2015 e o Desporto Nacional: O Treinador (parte III)
Uma nova era. Após o fracasso total na campanha para o Campeonato do Mundo, Mário Narciso assume, em 2013, o comando da Selecção Nacional de Futebol de Praia, manifestando o «orgulho extraordinário» de ter sido o escolhido para o cargo e traçando metas ambiciosas para o futuro. Mantendo Luís Bilro e Tiago Reis a seu lado, o setubalense foi, aos poucos, montando as bases que permitissem a Portugal fazer face às grandes equipas e voltar a sonhar com um grande título.

Chegamos a 2015. O trabalho contínuo de dois anos tem agora oportunidades de ser exibido. Ambiciona-se um salto gigante. Do fundo do poço, ao topo do mundo. Principais objectivos: Jogos Europeus de Baku e Campeonato do Mundo, a ser disputado na praia da Baía, em Espinho. A viagem ao Azerbaijão corre bem. Portugal sucumbe aos pés da Rússia (1-2) nos últimos minutos, mas segura a medalha de bronze num confronto épico com a Suíça (6-5). Segue-se o Campeonato do Mundo. Em areias nacionais. Mário Narciso, ciente do poderio dos adversários e do estado físico e anímico dos seus jogadores, não admite menos que o pódio. A Selecção Nacional de Futebol de Praia, como muitos nunca se esquecerão, supera as expectativas e ergue o tão ambicionado troféu. Logo a seguir, conquista o título europeu, na Estónia. Em cerca de três meses, Mário Narciso devolvera a glória à Selecção na modalidade e marcara um ano que permanecerá inesquecível para a história da modalidade. É reconhecido como o Treinador do Ano no desporto em questão e condecorado em Belém, juntamente com a restante comitiva, pelo Presidente da República.

Sensação fantástica. Se me dissessem há três anos que ia ser campeão do mundo de futebol de praia eu diria que estavam a brincar. Esta equipa mereceu. [Mário Narciso, após Portugal se sagrar campeão mundial]

Dando sequência ao trabalho realizado em 2014, Rui Jorge guiou uma Selecção Sub-21 à final do Campeonato Europeu, onde apenas sucumbiu na lotaria dos penáltis perante a predestinada Suécia. Pelo meio, um registo imaculado na campanha de qualificação (10 vitórias em outros tantos jogos), que teve o seu seguimento na fase final (nenhuma derrota), que resultou na medalha de segundo classificado e no apuramento para os Jogos Olímpicos do próximo ano. Entretanto, o pleno de vitórias no grupo de qualificação para o Euro'2017 vai deixando boas indicações. Na canoagem, a dupla Hélio Lucas e José Sousa comandou uma armada que continua a somar medalhas ao seu currículo, nas mais importantes competições internacionais, e que promete dar tudo para figurar entre os melhores no Rio de Janeiro. Mas a escolha recaiu sobre um dos "Heróis da Areia". É Mário Narciso o melhor Treinador de 2015.

2015 e o Desporto Nacional: A Equipa (parte II)

2015 e o Desporto Nacional: A Equipa (parte II)
Uma geração, por muito que se queira, nunca é eterna. O tempo corre, a idade pesa. O hábito de ver o talento eterno de Alan ou Madjer a emergir nas praias portuguesas Verão após Verão esbarra na falta de um título mundial. E o fracasso de 2012, quando nem nos qualificámos para o Campeonato do Mundo do ano seguinte, pode ser um sinal de que tudo tem um fim.

Ano de 2015. Mário Narciso já havia, entretanto, assumido o cargo de Seleccionador. O Campeonato do Mundo teria lugar em Espinho. Em casa. Talvez a última grande oportunidade de se sonhar com um grande título que teima em escapar à Selecção Nacional de Futebol de Praia. O grupo, pelo menos, é acessível. A estreia corre bem, com Portugal a vencer o Japão (4-2). O jogo seguinte, porém, lança algumas dúvidas. O Senegal (5-6) surpreende a Selecção Nacional, num jogo onde o aspecto mental acabou por fazer toda a diferença. Regressam as incógnitas. Terá sido um mero acidente de percurso? O jogo final diante da Argentina (7-2) dá a entender que sim. Espera-se que a complacência se tenha quedado pela fase de grupos.

Segue-se a vice-campeã Suíça, sabendo que o Brasil, qual "besta negra", deverá ser o adversário seguinte. Um jogo de cada vez. A irreverência de Ott e a experiência de Stankovic causam dificuldades, mas o hat-trick de Madjer desbloqueia o jogo (7-3) e encaminha Portugal para as meias-finais. A Rússia, uma das favoritas em prova e que recentemente nos havia batido em Baku, eliminara o Brasil e marcara confronto para discutir o acesso à tão ambicionada final. A força do adversário é notória. Mas são os ânimos exaltados dos russos, juntamente com a ajuda dos suplentes portugueses, a decidir o jogo (4-2) e guiar-nos à final. Desta vez não há Brasil. Menos mal. Sonha-se. O Tahiti, em ascensão na modalidade, batera a Itália nos penáltis e seria o derradeiro oponente. 

Três segundos e já se festeja no areal da praia de Espinho. Belchior e Coimbra dilatam a vantagem e o marcador já vai nos três, sem que o Tahiti consiga reagir. As coisas correm de feição. Mas quem chega à final nunca desiste. Um jogador do Tahiti falha escandalosamente uma recarga em zona frontal, já com o resultado em 4-3, depois de Bruno Novo, entretanto, ter feito o gosto ao pé. Como a história poderia ter sido bem diferente... Talvez tenha sido obra destino. Alan, com um chapéu de grande categoria a segundos do fim, decidiria a final. O que Madjer iniciou, Alan terminou. Mais uma coincidência? Talvez. Mas esta foi mesmo simbólica. Soa o apito final. Celebra-se em campo e nas bancadas. Os "Heróis da Areia" sagram-se campeões mundiais pela primeira vez e arrecadam a terceira competição FIFA em toda a história da FPF.

À conquista do título mundial, antecedida semanas antes pela medalha de bronze conquistada nos Jogos Europeus de Baku, junta-se mais tarde a vitória sobre a Ucrânia (5-4) na final da Superfinal da Liga Europeia. Como se já não bastassem os títulos colectivos, Portugal é plenamente reconhecido na Gala Internacional da modalidade, arrecadando os prémios de Melhor Jogador (Madjer), Melhor Treinador (Mário Narciso) e Jogador em Ascensão (Bé Martins). Um ano para mais tarde recordar.

Está na hora. Temos tudo, tudo a nosso favor. Jogamos em casa e estamos motivados. Pela brilhante carreira que fizemos em Baku interiorizámos que somos uma das melhores equipas do mundo. Sinto que podemos bater qualquer equipa. [Madjer, antes de Portugal disputar o Campeonato do Mundo]

Embora nem sempre haja o devido reconhecimento e mediatismo, todos os anos há equipas que se superam e que orgulham a nossa pátria. E nos últimos tal tem sido uma constante. Desde mais um excelente ano para a Selecção Portuguesa de Ténis de Mesa, que conquistou a medalha de ouro nos Jogos Europeus de Baku e outras quatro, entre as quais uma de ouro, no Campeonato Europeu, um bom indicador para os Jogos Olímpicos que se avizinham, passando pelo talento mais jovem da Selecção Nacional Universitária de Andebol, 100% vitoriosa e medalha de ouro nas Universíadas de Gwangju, e da Selecção Sub-20 de Hóquei em Patins, que renovou o título mundial em solo espanhol, motivos não faltam para acreditar que Portugal poderá continuar a dar cartas nas diferentes modalidades e que a próxima edição dos Jogos Olímpicos não ficará manchada pela ausência de medalhas. Contudo, pelo feito histórico, pelo peso simbólico e por ter quebrado a malapata de "morrer na praia", literalmente, houve uma equipa que mereceu mais esta distinção. É a Selecção Nacional de Futebol de Praia a melhor Equipa de 2015.

2015 e o Desporto Nacional: O Atleta (parte I)

2015 e o Desporto Nacional: O Atleta (parte I)
31 de Maio de 2015. Circuito de Mugello, Itália. Categoria de Moto3. Um jovem português de 20 anos parte da 11ª posição da grelha e arranca para uma vitória que faz soar o hino nacional pela primeira vez numa prova do Campeonato do Mundo. Transpira-se orgulho. Começaria aqui a afirmação de Miguel Oliveira, depois de alguns anos a desenvolver as suas capacidades ao mais alto nível e a subir ao pódio por cinco ocasiões distintas, mas sem ocupar o lugar mais honroso deste.

Depois de um 5º lugar no GP Catalunha, eis um novo triunfo, em solo holandês, local do seu único pódio em 2014. Começa-se a sonhar alto. A sorte, no entanto, desvia-se da pista de Miguel Oliveira no GP Alemanha. Uma fractura na mão esquerda, contraída nos treinos livres, força-o a abandonar a corrida e a ser operado. Receia-se. Mas não se desiste. Após algumas semanas a tentar regressar ao seu melhor ritmo, Miguel Oliveira inicia uma recuperação estrondosa, logrando cinco pódios consecutivos - incluindo três vitórias - à entrada para a última corrida da temporada. A perseverança do atleta luso, aliada a uma moto renovada pela equipa com quem havia rubricado contrato no início do ano, a KTM, permitem-lhe discutir o título mundial na última corrida da época, em Valência. Uma tarefa bastante complicada, uma vez que o britânico Danny Kent nem sequer precisaria de fazer uma grande corrida para segurar o seu primeiro lugar. É o que acontece, infelizmente. A vitória de Miguel Oliveira de nada lhe vale nas contas finais, com Danny Kent a vencer o português por uma margem de seis pontos.

Para a história irá ficar o percurso do atleta de Almada, que em 2015 espalhou o som d'A Portuguesa por seis circuitos diferentes e mostrou ter todas as condições de aspirar ao seu grande objectivo, a MotoGP, num futuro próximo. Para já segue-se uma nova aventura, ao serviço da Leopard Racing, no escalão de Moto2, onde irá reencontrar Danny Kent, agora seu colega de equipa.

É bom sair como uma referência da categoria. Deixa-me muito contente e dá-me muita confiança para os novos desafios que se avizinham. Sair da Moto3 como uma referência e ganhar a última corrida… não poderia haver melhor forma de terminar o campeonato. [Miguel Oliveira, após o GP Valência]

João Sousa viveu o seu melhor ano da carreira, alcançando um histórico 33º lugar no ranking ATP, melhor classificação de um tenista português em toda a história da modalidade, e marcando presença em quatro finais do circuito masculino e garantindo em Valência o seu segundo grande título da carreira [Kuala Lumpur, em 2013]. Aos 26 anos, e continuando a receber rasgados elogios por parte dos mais prestigiados colegas da modalidade, o "Conquistador" tem vindo a demonstrar que o sonho de ter um tenista luso no Top-25 mundial poderá ser concretizado em breve. O canoísta Fernando Pimenta viveu um dos melhores anos da sua carreira, arrecadando dez medalhas, entre as quais a de ouro na Taça do Mundo, de prata nos Jogos Europeus de Baku'2015 e no Europeu (K4), e de bronze no Mundial e no Europeu. Rui Bragança, actual 3º classificado no ranking mundial de taekwondo (-58kg), depois de se ter sagrado campeão europeu em 2014, arrecadou a medalha de ouro nos Jogos Europeus e a de prata nas Universíadas, na Coreia do Sul, sendo já visto como uma das grandes esperanças da comitiva nacional que irá estar presente nos Jogos Olímpicos. Cristiano Ronaldo, personalidade indissociável no que toca a eleger os melhores, falhou os títulos colectivos mas voltou a quebrar recordes, especialmente na Liga dos Campeões, e a deixar a sua marca pessoal na história do futebol. Contudo, no fim nenhum conseguiu acompanhar o sprint final do motociclista de Almada em direcção à meta. Miguel Oliveira é, portanto, o Atleta Nacional de 2015.

Liga NOS: Balanço do Mês (Novembro - Dezembro)

Depois de um mês de Novembro parco em jogos da Liga, Dezembro devolveu a emoção aos relvados nacionais. Desde logo por nos ter brindado com um presente de Natal antecipado, com 40 golos numa só jornada, um dos melhores registos das últimas décadas. Nas contas que mais interessam, e com um Benfica ainda a correr atrás do prejuízo, FC Porto e Sporting trocaram as posições cimeiras, algo que apenas veio apimentar o clássico entre dragões e leões na próxima ronda, sendo que os comandados de Julen Lopetegui fizeram o pleno nos seis jogos disputados ao longo dos últimos dois meses. A meio da tabela, Arouca e Vit. Guimarães merecem destaque pela forma como se aproximaram dos lugares europeus (apenas dois pontos de distância), e o Moreirense parece estar de volta ao caminho certo, após ter somado 11 dos seus 14 pontos nos últimos seis jogos. Pior estão certamente as três equipas com a pior sequência de jogos sem uma vitória, Estoril (8), Boavista (9) e Tondela (11), sendo que os beirões ocupam o último lugar, com apenas 5 pontos conquistados ao cabo de 14 jornadas.

Individualmente, Miguel Layún foi a estrela maior do campeonato ao apresentar uma estatística impressionante nestes últimos dois meses (2 golos e 6 assistências) e por estar a cimentar-se como um activo essencial no esquema táctico do FC Porto; Stefanovic e Iuri Medeiros, principalmente, foram elementos cruciais para a recente recuperação do Moreirense; Danilo Dias (3 golos e 2 assistências) foi decisivo para o U. Madeira; o pacense Bruno Moreira (4 golos) ganhou por escassa margem a corrida a Maurides (Arouca) e acompanha o benfiquista Jonas (5 golos e 3 assistências) no ataque da equipa ideal.

Defesa aos pastéis

A 13ª jornada da Liga NOS não deverá guardar boas recordações para os adeptos do Belenenses, sobretudo os mais supersticiosos. Devido à derrota em Coimbra (3-4), a equipa permanece com 13 pontos, ocupando o 13º lugar, e ainda viu Ricardo Sá Pinto colocar o seu cargo à disposição. Olhando para o trabalho que o técnico português fez na Liga, salta logo à vista que a defesa tem "andado aos papéis". Ou "aos pastéis", tratando-se dos azuis do Restelo.

Nas 13 jornadas disputadas, o Belenenses tem 30 golos sofridos (média de 2,31 golos/jogo), sendo que 22 deles foram encaixados longe do próprio estádio, daí que não surpreenda que estejamos perante a defesa mais batida do campeonato. Em 6 dos 13 jogos, o guardião Ventura, totalista no campeonato, teve de ir buscar a bola ao fundo das redes pelo menos três vezes, o que atesta bem o desequilíbrio defensivo da turma azul - das restantes equipas, apenas a Académica (4) soma mais de três jogos com 3 ou mais golos consentidos em noventa minutos. Embora o registo defensivo seja predominantemente negativo, o Belenenses não é a equipa da Liga com menos clean sheets: Ventura conseguiu manter a baliza inviolável diante de Moreirense (2-0) e U. Madeira (1-0), tantas vezes quanto Salin, do Marítimo. Com apenas um jogo sem golos sofridos, Académica e Tondela dividem o estatuto de piores da prova nesse aspecto em particular.

Como os defesas também não estão inibidos de darem o seu contributo ao ataque, como é óbvio, convém realçar mais um dado estatístico bastante curioso: nenhum defesa do Belenenses soma um golo ou uma assistência até ao momento no campeonato, registo inédito entre todas as equipas da competição. Gonçalo Brandão, verdade seja dita, até já fez o gosto ao pé logo na jornada inaugural, frente ao Rio Ave (3-3)... mas na baliza errada.

De volta à boa forma?

Depois de um retorno em grande ao principal escalão do futebol nacional, o desafio do Moreirense para a nova época era o maior até à data. Privado de jogadores nucleares em 2014/15, que rumaram a outras paragens na abertura do mercado - Marafona, Paulinho, André Simões, Arsénio -, Miguel Leal sabia que um bom arranque poderia motivar um conjunto em reconstrução. No entanto, o início de época não correu como o desejado. Apesar de quase ter roubado pontos ao Benfica (2-3), na Luz, e de ter travado, em casa, o FC Porto (2-2), o Moreirense não fez mais do que 3 pontos nas oito jornadas inaugurais.

A ocupar a posição de "lanterna vermelha", foi em Coimbra [Académica 1-1 Moreirense], já para lá dos 90', que a equipa se relançou no campeonato, graças a um remate certeiro de Ença Fati. Desde então, a história dos cónegos mudou completamente: para além do registo de 3 jogos consecutivos sem sofrer golos (Stefanovic muito contribuiu para tal), a equipa venceu finalmente um jogo no campeonato, ante o Paços de Ferreira (2-0), deixou pela primeira vez o Rio Ave em branco (1-0) e roubou pontos ao Sp. Braga (0-0), uma das equipas a lutar abertamente pelos lugares cimeiros da tabela. Conhecido por montar bem a sua equipa do ponto de vista táctico, Miguel Leal viu, assim, o seu Moreirense melhorar substancialmente os índices ofensivos e, sobretudo, defensivos nas partidas mais recentes. Na época transacta, o técnico não foi além de 4 partidas consecutivas sem conhecer o sabor da derrota (2 vitórias, 2 empates), algo que agora se torna a verificar. Conseguirá na próxima jornada, diante do Sporting, melhorar esse registo e estabelecer um novo máximo?

"Su(k)cesso" Asiático

É muito raro ver um clube português apostar num jogador asiático para o seu plantel. Quer pela natural barreira linguística ou cultural, quer pela gritante diferença de exigência técnico-táctica, é bastante provável que essa mesma aposta não se torne num caso de sucesso. Suk Hyun-Jun, ou simplesmente Suk, é, portanto, uma excepção à regra. O avançado sul-coreano, que cumpre actualmente a sua terceira época no campeonato nacional, tem sido um dos melhores na sua posição desde o início da prova, assumindo uma preponderância vital no processo ofensivo do Vit. Setúbal.

Titular nas 12 jornadas da presente edição da Liga, e apenas superado pelo totalista Frederico Venâncio no número de minutos jogados por um jogador da formação sadina, Suk é o segundo melhor marcador da competição (juntamente com o sportinguista Islam Slimani) com 7 golos marcados. Um número que lhe permite melhorar a marca do ano passado (6 golos, ao serviço de Nacional e Vit. Setúbal, em 30 jogos) e isolar-se ainda mais como melhor marcador asiático em toda a história da Liga Portuguesa (17 golos). Aos tentos marcados em 2015/16, Suk acrescenta ainda 4 assistências, o que atesta a influência na manobra ofensiva da equipa - está directamente envolvido em 11 dos 21 golos (52,4%) do Vit. Setúbal na Liga.

Apenas superado por FC Porto e Benfica, e em igualdade com o Sporting, o ataque da turma do Sado também tem contado com outras peças em destaque. André Claro tem sido um parceiro à altura na frente de ataque (5 golos e uma assistência), Costinha teve um bom arranque de campeonato e Arnold Issoko e André Horta têm vindo a conquistar o seu espaço entre o grupo principal daquela que está a ser uma das revelações do principal escalão da Liga até ao momento.

Mestre da táctica... defensiva

Apesar de uma maior contenção financeira, esperava-se que Jorge Jesus tivesse um impacto imediato e fosse capaz de finalmente fazer com que o Sporting rivalizasse com Benfica e FC Porto, os outros grandes candidatos ao título. E a verdade é que o clube de Alvalade está no bom caminho. Mas o apelidado "Mestre da Táctica", ao contrário do que nos habituou nas últimas épocas - apenas não superou a fasquia dos 100 golos marcados no ano passado -, está actualmente a (tentar) fazer valer a máxima «Ataques ganham jogos, defesas ganham campeonatos». Como se pode constatar pela imagem ao lado, e com o auxílio dos dados da Opta, o Sporting é a equipa que recebeu menos remates adversários enquadrados com a sua baliza (18), dos quais 5 (dois deles de grande penalidade) fizeram balançar as redes à guarda de Rui Patrício. Noutros registos defensivos importantes, o conjunto de Jorge Jesus apenas é superado pelo Vit. Guimarães (185) no número de desarmes ganhos e pelo Sp. Braga (639) no número de duelos ganhos - individualmente, Adrien lidera os leões em ambos os capítulos.

Com apenas um golo sofrido nas últimas sete jornadas [Sporting 5-1 Vit. Guimarães], estamos perante a segunda melhor defesa do campeonato, apenas superada pela do FC Porto (4 golos concedidos), e o melhor Sporting do século XXI no que diz respeito à quantidade de golos sofridos (5) no primeiro terço do campeonato. Já de Jorge Jesus não se pode afirmar o mesmo. O técnico igualou o registo alcançado na sua única época ao serviço do Sp. Braga, em 2008/09, em que alcançou o 5º lugar, meses antes de iniciar uma nova etapa enquanto treinador do Benfica.

Nas asas do Dragão

Apesar de não praticar o futebol mais espectacular da Liga, ninguém pode negar que a defesa do FC Porto tem sido uma das mais consistentes do campeonato. Algo que já se havia verificado no ano passado. Uma das imagens de marca do sector defensivo deste ano tem sido, indubitavelmente, a influência ofensiva que os laterais têm tido. Depois das saídas de Danilo e Alex Sandro, este último ainda fez uma assistência no único jogo em que participou esta época, Maxi Pereira e Miguel Layún têm sabido dar boa resposta nas asas (leia-se "alas") do Dragão. O uruguaio já soma 5 assistências, apenas menos uma face ao registo de 2014/15, embora ainda não tenha feito o gosto ao pé. Já o mexicano, que apenas chegou no fecho do mercado de transferências, tem sido o melhor jogador da Liga nas últimas cinco jornadas, acrescentando um golo às suas 4 assistências.

Ainda assim, não são apenas os laterais que merecem destaque. O FC Porto é agora a equipa que já não sofre golos há mais tempo - desde a 6ª jornada -, dado que confere aos azuis e brancos o estatuto de melhor defesa do campeonato (4 golos sofridos). Neste primeiro terço de campeonato, para além dos três jogadores supracitados, também os centrais Iván Marcano e Maicon, com um e dois golos, respectivamente, já participaram em golos portistas. A boa forma do sector defensivo estende-se à baliza, onde Iker Casillas defendeu um penálti em Aveiro, diante do Tondela (1-0), dando continuidade ao número de minutos sem sofrer qualquer golo na Liga.