Relatório de Olheiro: Benfica x FC Porto

Benfica e FC Porto medem forças no Estádio da Luz, esta sexta-feira, num jogo importante para as contas do título, não fosse este um embate entre dois colossos do futebol português. O Benfica, invicto em 2016, e que já não perde para o campeonato desde a derrota caseira com o Sporting (0-3), está em primeiro lugar, em igualdade pontual com o Sporting, e chega assim mais moralizado para o Clássico, isto depois de o Arouca ter repetido uma façanha que não se verificava há largos meses, ao bater o FC Porto (1-2), para a Liga, no estádio dos azuis e brancos. Ainda à procura de uma identidade sob o comando de José Peseiro, os dragões sabem que tudo o que não signifique uma vitória poderá ser suficiente para voltar a ver o título escapar para um dos rivais de Lisboa. Vencer é, portanto, obrigatório para qualquer uma das equipas.


Benfica: Contrariar a tendência dos jogos grandes

Ao contrário do que aconteceu na época passada, o Benfica deixou o pragmatismo de parte nos jogos grandes e tem sentido muitas dificuldades para contrariar o ímpeto adversário. No Dragão, à 5ª jornada, o Benfica conseguiu disputar o jogo de forma equilibrada, sucumbindo nos últimos minutos. Contra o Sporting, as três derrotas em tantas partidas esta época não abonam a favor de Rui Vitória, que, no entanto, parece ter finamente encontrado o modelo de jogo mais adequado para a sua equipa. A afirmação de Lisandro face à lesão de Luisão, a juventude de Renato Sanches, agressivo na luta pela bola e com um pulmão imenso, e a importância táctica de Pizzi, o joker de Rui Vitória neste "novo" Benfica, têm catapultado os encarnados para o topo e dado uma nova moral à equipa.

ASPECTO A EXPLORAR: Liberdade criativa dos alas. Pizzi assumiu o lado direito do meio-campo e conferiu uma estabilidade táctica que tem sido preponderante no sucesso do Benfica. As suas movimentações, juntamente com a magia de Gaitán, exímio na condução de bola e um dos jogadores mais tecnicamente evoluídos do campeonato, podem desequilibrar uma partida a qualquer momento e baralhar as marcações individuais do FC Porto.

TER ATENÇÃO A: Bolas paradas. E isto em ambos os lados do campo, isto é, o FC Porto tem marcado vários golos de bola parada, sobretudo de canto, mas também tem sofrido bastantes de igual forma.

JOGADOR-CHAVE: Jonas. Acusado de não aparecer nos "jogos grandes", algo comprovado pela estatística, o brasileiro entra para este jogo no melhor momento da sua carreira (15 golos e 6 assistências, nos últimos 10 jogos da Liga). Perante uma equipa do FC Porto não tão coesa como anteriormente, as suas movimentações serão fulcrais para criar desequilíbrios - e oportunidades - e buscar, assim, o primeiro golo contra os dragões.


FC Porto: Manter a chama do título acesa

Um nada querido mês de Janeiro... Depois de terem sido afastados da Liga dos Campeões - o jogo em casa com o D. Kiev terá sido o momento chave da época - e da Taça da Liga, ainda que não de forma oficial, os dragões viram a liderança fugir logo no primeiro jogo de 2016 após uma exibição pobre frente ao Sporting. Fast-forward até à chegada de José Peseiro, encontramos um FC Porto cada vez mais longe do primeiro lugar, sem a mesma chama de outros tempos. A chegada do novo técnico implicou o abandono do futebol de posse e a adopção de um modelo que privilegia a largura de jogo e o envolvimento dos jogadores numa manobra mais ofensiva, com o uso recorrente dos flancos. Numa equipa ainda à procura de cimentar esta nova identidade, em vésperas de um dos jogos mais importantes da época, resta saber como se comportará o Dragão no Estádio da Luz.

ASPECTO A EXPLORAR: Largura de jogo e movimentos interiores. Tal como escrevi, o modelo de jogo de José Peseiro privilegia a exploração dos flancos. Se a equipa se conseguir balançar bem no ataque, trocando a bola rapidamente e baralhando o posicionamento defensivo do Benfica com movimentos interiores e de ruptura, as ocasiões de golo deverão surgir mais facilmente. Atenção ainda para as movimentações de André André, constantemente a derivar para o flanco, e Herrera.

TER ATENÇÃO A: Transição defensiva. O Benfica não é uma equipa especialmente talhada para o contra-ataque, mas Renato Sanches, Pizzi e Gaitán são jogadores capazes de imprimir uma nova velocidade de um momento para o outro. E o modelo ofensivo do FC Porto é bastante susceptível de abrir brechas no meio-campo defensivo - contra o Arouca isso ficou bem evidente.

JOGADOR-CHAVE: Corona. Poderia igualmente destacar Brahimi, mas "Tecatito" tem tudo para se evidenciar. No duelo com Eliseu leva clara vantagem, tanto no "um contra um" como nas desmarcações nas suas costas do internacional português, e a sua velocidade poderá igualmente ser útil em situações de transição rápida.

Liga NOS: Balanço do Mês (Janeiro)

A mudança de ano não implicou, felizmente, uma mudança nos hábitos ofensivos das equipas da Liga - em Janeiro, a média de golos aproximou-se dos 3,5 golos/jogo. Nas contas que mais interessam, o Benfica foi, sem sombra de dúvidas, a equipa em melhor forma (6 vitórias em 6 jogos), aproximando-se do rival Sporting, e ultrapassando um FC Porto combalido - já sem Lopetegui - que desceu do topo da tabela logo após a derrota com o Sporting, em Alvalade. Um pouco mais abaixo na tabela, o Vit. Guimarães continua a espreitar os lugares europeus e o Belenenses tem vindo a subir de nível desde a chegada de Júlio Velázquez, novo técnico dos azuis do Restelo. Já Tondela e Marítimo, cada um com apenas uma vitória neste mês, vão-se afundando numa posição delicada na tabela, tendo em conta aqueles que eram os seus objectivos na época.

Individualmente, Pizzi tem subido de forma de uma maneira cavalgante - é ele um dos principais responsáveis pelo sucesso actual do Benfica, ainda invicto em 2016 -, destacando-se no panorama europeu como um dos jogadores com mais passes para ocasião no respectivo campeonato, e no panorama nacional (4 golos e 4 assistências, em seis jogos); os melhores avançados da primeira volta, Jonas e Slimani, somaram um total de 16 golos e 4 assistências, números verdadeiramente impressionantes; Adrien, talvez o jogador em melhor forma no Sporting, é o maior destaque no meio-campo do onze ideal do mês, co-adjuvado por Otávio, bastante potenciado por Sérgio Conceição e regular desde que assumiu a titularidade. Nota de destaque para Danilo Pereira (FC Porto), João Mário (Sporting), Iuri Medeiros (Moreirense) e Bruno Moreira (P. Ferreira), jogadores que apenas não figuraram no onze face à forte concorrência nas respectivas posições.