EURO'2016: A festa do futebol em frágil solo gaulês

Favoritismo para os anfitriões

Nunca os ideais de uma nação fizeram tanto sentido antes do início de uma grande competição de nações no panorama futebolístico. "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", as três palavras de ordem em vésperas de um torneio que esteve em risco devido a problemas de segurança que assolaram a França há escassos meses, três mandamentos comuns à ordem entre as nações. E como são elas as grandes figuras do EURO'2016, que se dê destaque a quem o merece.

A própria França, até por jogar no seu território, é a grande favorita à conquista do troféu, contando com duas das maiores estrelas da competição (Pogba e Griezmann) e com um restante elenco de luxo, apesar de todas as ausências sonantes, entre as quais Benzema, grande parte delas por lesões recentes. Com qualidade exacerbada em todas as posições do terreno e um treinador experiente, as expectativas são altas relativamente ao anfitrião, que na última grande competição de nações, o Mundial'2014, foi eliminado pela... Alemanha. Os germânicos, campeões mundiais, estão também bem cotados para erguer a taça, sobretudo por manter boa parte do núcleo duro que fez a festa há dois anos. A maior diferença reside na defesa, onde poderá residir a diferença nas fases mais adiantadas, com Lahm e Hummels a saírem do onze titular em 2014 e a não terem substitutos a um nível idêntico.

Portugal entre o segundo lote de favoritos

Poderá parecer excesso de confiança englobar a nossa Selecção numa segunda linha de favoritismo, mas quando se tem uma equipa tão equilibrada e um jogador capaz de fazer a diferença a qualquer momento é impossível não assumir um estatuto como este. Portugal tem um meio-campo de luxo, parece ter ganho uma confiança acrescida com a chegada de Fernando Santos, como já não se via desde os tempos de Scolari, e deverá ser a segunda selecção com mais adeptos neste EURO'2016. A Espanha, pela má imagem que deixou há dois anos, por estar no grupo mais difícil e por estar a ultrapassar os tempos áureos que viveu recentemente, figura apenas numa linha de favoritismo inferior, apesar de contar com vários jogadores de qualidade inegável. A Itália, treinada pelo futuro técnico do Chelsea, Antonio Conte, que conhece bem os jogadores da sua linha mais recuada, ex-pupilos na Juventus, é uma das selecções que poderá causar maiores dificuldades nas fases mais adiantadas do torneio, até pelo excelente poder táctico de que dispõe.

Potenciais surpresas e desilusões

Croácia: Não tem um grupo fácil, mas tem qualidade suficiente para passar à fase seguinte e desafiar os melhores tal é a qualidade dos jogadores que tem à sua disposição, muitos nas condições ideais para sobressaírem ao longo das próximas semanas.

Suécia: Tem uma equipa equilibrada, um jogador que chega a França - ou se mantém por lá, por enquanto - num momento de forma tremendo e pode surpreender pela forma organizada como joga.

Rússia: Individualmente tem condições para fazer uma boa campanha, mas o jogo inaugural diante da Inglaterra, se não correr bem, pode acrescentar pressão a uma selecção que reparte com a Eslováquia a candidatura ao segundo lugar do grupo.

República Checa: Venceu o seu grupo na fase de qualificação, à frente de Holanda (eliminada), Islândia e Turquia, o que aumentou as expectativas em seu torno, mas teve o azar de voltar a figurar num "grupo da morte", onde o último lugar é uma forte possibilidade.


10 jovens jogadores estrangeiros a ter em atenção

  1. Elseid Hysaj || Albânia || Defesa || 22 anos || Napoli
  2. Victor Lindelöf || Suécia || Defesa || 21 anos || Benfica
  3. Jason Denayer || Bélgica || Defesa || 20 anos || Man. City
  4. Oğuzhan Özyakup || Turquia || Médio || 23 anos || Besiktas
  5. Dele Alli || Inglaterra || Médio || 19 anos || Tottenham
  6. Ozan Tufan || Turquia || Médio || 21 anos || Fenerbahçe
  7. Piotr Zielinski || Polónia || Médio || 22 anos || Empoli
  8. Ladislav Krejci || República Checa || Médio || 22 anos || Sparta Praga
  9. Arkadiusz Milik || Polónia || Avançado || 22 anos || Ajax
  10. Breel Embolo || Suíça || Avançado || 19 anos || Basileia


PORTUGAL: Algumas notas visando o sucesso

Possível onze base de Portugal
Após a entrada de Fernando Santos, a Selecção Nacional teve uma fase de qualificação bastante tranquila, como há muito não se verificava, o que não significa necessariamente que o futebol praticado tenha sido deslumbrante. Longe disso. Com alguma sorte pelo meio, Portugal estará inserido naquele que é, porventura, o grupo mais fácil da fase final do EURO'2016, o que no plano teórico apenas traz aspectos positivos. Aumento de confiança, aprofundamento de conhecimentos tácticos e rotinas de equipa e sobretudo menor desgaste físico, que poderão ser cruciais numa competição agora alargada a 24 equipas na sua fase decisiva.

E se, como disse, o futebol tardou em convencer, a verdade é que se tem verificado um crescimento considerável até à véspera do torneio, e Portugal chega a França com a confiança em alta depois de uma goleada convincente diante da Estónia (7-0).

Abandonando o tradicional 4-2-3-1 que caracterizou a Selecção Nacional durante vários anos, Fernando Santos implementou um 4-4-2 que tira melhor partido da ausência de um ponta-de-lança goleador (Cristiano Ronaldo será uma falsa referência no momento ofensivo) e que aproveita melhor o talento em abundância no meio-campo. Assim, e com base no que ficou patente nos jogos que antecederam a participação de Portugal no Europeu, é possível formar algumas notas quanto ao que se poderá/deverá esperar da nossa equipa.

ASPECTO MAIS FORTE: O meio-campo. Duas excelentes opções para a vaga de médio mais recuado, jogadores inteligentes um pouco mais à frente, tecnicamente dotados, enfim, qualidade é coisa que realmente não falta no centro do terreno, zona primordial do esquema de Fernando Santos.

EVITAR A TODO O CUSTO: Centrar as atenções em Cristiano Ronaldo. Não deixa de ser curioso que a opinião internacional continue a referir que Portugal é composto por "Ronaldo + 10" - algo que por cá também se parece verificar -, quando estamos perante uma Selecção com vários jogadores de qualidade. Dentro de campo há que confiar nos rasgos de inspiração do extremo, mas não ficar dependente do mesmo, pois tal não seria bom nem para o jogador, nem para a equipa.

JOGADOR-CHAVE: João Mário. Ok, temos Cristiano Ronaldo, um dos melhores jogadores da história... mas o impacto que o jogador do Sporting tem tido na dinâmica da equipa é por demais evidente. Adaptado ao seu papel na Selecção, não tão diferente do que faz no seu clube, o médio tem uma inteligência pouco habitual com e sem bola, e promete ser uma das figuras de Portugal neste Campeonato da Europa.

POTENCIAL SURPRESA: Raphaël Guerreiro. O lateral esquerdo convenceu na fase preparatória e ameaça mesmo ocupar a vaga no lado esquerdo da defesa, ganhando assim o lugar a Eliseu. Agressivo, acutilante no momento ofensivo e dono de uma técnica bastante apurada, o jovem de 23 anos poderá surpreender os próprios portugueses caso seja o titular na sua posição.