Balanço do mercado de transferências: Portugal (parte II)

O Benfica não entrou em loucuras na janela de transferências
Já se sabia que a excelente época anterior iria ter custos para os lados da Luz mas a abordagem à janela de transferências esteve longe de ser a melhor. A melhor notícia foi mesmo a permanência de Enzo Pérez e Gaitán. O Benfica viu partir cinco dos habituais titulares e falhou na aquisição de alguns dos seus substitutos. Júlio César chegou para dar nova concorrência a Artur entre os postes, a saída de Garay - negócio estranho e uma das piores vendas de sempre do clube - não implicou um esforço encarnado num jogador creditado (Lisandro López retornou de empréstimo e César é visto como uma aposta de futuro) e Jardel será à partida o seu substituto, o Benfica decidiu não investir 7M para adquirir Siqueira - devido a contenção financeira, segundo o Presidente - e foi buscar quatro jogadores que podem fazer a sua posição (Eliseu, que semanas antes podia ter vindo a custo zero, Benito, Djavan e Sílvio, cujo empréstimo foi prolongado e que é lateral direito de raiz), a venda de Markovic catapultou Salvio para o onze inicial e Rodrigo, vendido a um fundo em Janeiro à semelhança de André Gomes, saiu sem que tivesse chegado alguém com características similares. E é aqui que reside o maior problema. O jovem avançado era uma peça fulcral para Jorge Jesus pela forma como ajudava a pressionar numa primeira fase, vinha buscar jogo, transportava bola fruto da sua técnica e constituía uma ameaça para as defesas contrárias tal era a sua capacidade de movimentação e de remate. Talisca tem sido o mais usado na sua posição mas o treinador, em conferência de imprensa, admitiu que precisava de mais um avançado. Jara não convence, Talisca (habitual titular) e Derley têm características diferentes, Bebé não tem sido equacionado para a posição. Joel Campbell, do Arsenal, prometia ser reforço de última hora mas tal não se confirmou. O Benfica, que em três meses não arranjou ninguém para o lugar de Rodrigo, vê-se agora obrigado a atacar todas as frentes sem mais um avançado no plantel. Pelo menos até Janeiro. Pelo meio ficam as inadmissíveis entradas de Benito, Djavan, Luís Felipe e Candeias que nunca teriam/terão espaço/qualidade para singrar no campeão nacional. Nota final para a lesão de Rúben Amorim (e Fejsa, ainda que esta dure há mais tempo) que forçou a contratação de Cristante, depois de Samaris se ter tornado num dos reforços mais caros da história do Benfica. Duas boas soluções, uma delas dá mais garantias no imediato, mas que levam a maior parte dos adeptos benfiquistas a colocar algumas questões. Terá feito sentido investir tanto dinheiro num sector cujo reforço não era prioritário? Como se explica que se tenha identificado um alvo para o meio-campo no espaço de uma semana e que o mesmo não tenha acontecido para o ataque (havendo interesse para todas as partes) em três meses? E Djuricic, não entraria de caras no actual onze titular (ou será que Jorge Jesus espera que o sérvio tenha no estrangeiro uma evolução semelhante à de Rodrigo)?



Nani, de volta a "casa", é o grande trunfo do Sporting
Muito se falou na saída de William Carvalho mas o Sporting conseguiu manter o seu médio-defensivo durante mais alguns meses. Algo que atenuou a iminente saída de Rojo, que proporcionou um bom encaixe financeiro, e confirma o estatuto do Sporting desta época. Depois do "renascer das cinzas" no ano passado, é impossível esconder que a equipa passou agora a vigorar entre os principais candidatos ao título. As investidas no mercado foram, portanto, feitas nesse sentido. O plantel necessitava de profundidade, pois a presença na Liga dos Campeões a tal o obrigava, e de mais-valias inegáveis para certas posições. A defesa foi bastante reforçada mas a gestão pode não ter sido a mais acertada - Rojo e Dier foram para Inglaterra (o inglês podia ter rendido uma verba maior) e as suas saídas foram precavidas com três centrais jovens (poderá a falta de experiência ter algum impacto?), Jonathan Silva, dado o seu potencial, é uma boa opção para o lado esquerdo da defesa mas o mesmo não se pode afirmar relativamente a Geraldes, reserva de Cédric no lado oposto. Rosell e Slavchev foram as grandes novidades para um miolo - não esquecendo o regresso de João Mário - cuja grande incógnita continua a ser André Martins, mas é no tridente ofensivo que reside o nome mais sonante desta equipa: Nani. Os leões precisavam, indubitavelmente, de pelo menos um extremo muito acima da média e o internacional português, mesmo vindo por empréstimo, confere desde logo um novo estatuto a um ataque com força suficiente para atacar o título nacional. Nota ainda para mais dois aspectos. O primeiro é a surpreendente aposta do Sporting em campeonatos periféricos e em jogadores jovens (Nani e Tanaka são os únicos reforços acima da faixa etária dos 23 anos) e o segundo é a dificuldade em colocar certos excedentários, como Miguel Lopes (até é estranho não ser uma opção mais regular), Shikabala (nunca devia ter sido contratado) e Héldon/Capel (um dos dois devia ter saído face ao vasto leque de opções existentes).



O FC Porto foi o clube português que mais recebeu e gastou
Sem dúvida a equipa que melhor se reforçou em Portugal. Os alvos, de tremenda qualidade, foram antecipadamente identificados e o FC Porto, como foi mencionado anteriormente, é o grande favorito a conquistar o título nacional. Lopetegui, quando se pensava que já tinha o plantel praticamente fechado no início de Agosto, não descansou enquanto não teve pelo menos um jogador de qualidade por posição (excepção feita para o posto de defesa direito, uma vez que Opare foi um "tiro ao lado") e esteve activo no mercado até à última hora. Antes de falar melhor sobre quem veio, convém relembrar que os dragões também souberam gerir bem as suas vendas, como já é seu apanágio. Só as saídas em definitivo de Iturbe, Fernando e Mangala permitiram um encaixe superior a 60M, o que a juntar aos "excedentários" Defour e Castro (e a todos os outros emprestados) não diminuíram a força do plantel azul e branco - as três vendas já eram expectáveis e o montante recebido por elas até impressiona. Para o lugar de Fernando foi-se buscar Casemiro (por empréstimo) e Bruno Martins Indi foi o escolhido para suprir a venda do central francês. Mas é do meio-campo para a frente que se atesta a força deste conjunto. Óliver Torres, Tello (ambos por empréstimo), Brahimi, Evandro, Adrián e Aboubakar são nomes que se juntam a Jackson Martínez e companhia (importantíssima a continuidade do colombiano). Se por um lado pode parecer exagerado o número de reforços do FC Porto neste Verão, e tantos por empréstimo, a verdade é que estão reunidas todas as condições para que possa haver retorno desportivo. Por último, referir que haverá menos espaço para os jogadores portugueses (o jovem Rúben Neves e Quaresma deverão ser as únicas excepções) e que os azuis e brancos, ao contrário do que costuma ser habitual, não conseguiram resolver o "dossier Rolando".



Raeder, Rui Pedro, Monteiro, Bressan, Pedro Tiba e Ebinho
Altura de fazer um breve resumo da actividade dos restantes clubes da Liga Zon-Sagres mercado de transferências...

Marco Silva não foi o único a abandonar o Estoril neste defeso. Evandro, Tiago Gomes, Gonçalo Santos, Carlitos e João Pedro Galvão encabeçam a lista de jogadores que deixaram os canarinhos este Verão, enquanto Tozé, Kléber (ambos por empréstimo do FC Porto) e Anderson Esiti são os reforços mais sonantes numa equipa ainda a lamentar a saída das suas peças-chave. O Nacional, agora fora das competições europeias, viu Mexer, Candeias e Djaniny sair da Choupana mas garantiu os serviços de Marco Matias (ex-Vit. Guimarães) e Suk (destacou-se há dois anos no Marítimo) e continua com uma equipa capaz de lutar por um lugar europeu. Ainda na Madeira, o Marítimo, agora orientado por Leonel Pontes, renovou a sua frente de ataque: saíram Danilo Dias, Artur, Derley e Sami; entraram Maazou, Ebinho e Edgar Costa. O Vit. Setúbal também não escapou ao sucesso do ano passado - jogadores em foco como Pedro Tiba, Ricardo Horta, Ramón Cardozo ou Kieszek rumaram a outras paragens e Lukas Raeder (ex-suplente de Neuer), Manú (bem conhecido do futebol português) e João Schmidt (por empréstimo do São Paulo) tornaram-se nas novas caras da formação do Sado. A Académica foi outra equipa que ficou sem vários jogadores que constituíam o seu onze base da temporada transacta, mais precisamente seis, mas garantiu os serviços do experiente Rui Pedro, que assim se junta a nomes como o retornado Lino, Obiora ou Schumacher. De Coimbra seguimos para o Norte, viagem que fez o agora técnico do Sp. Braga, Sérgio Conceição, que consigo levou Marcelo Goiano e Djavan, ainda que o processo deste último tenha sido mais complexo, e que bem pode agradecer à Direcção pela contratação de Pedro Tiba. Permanecendo na mesma região, o Vit. Guimarães conteve-se mais no ataque ao mercado. Rui Vitória continua a dar prioridade à aposta na "prata da casa" numa equipa onde Adama Traoré e David Caiado são os nomes mais sonantes face à partida de Paulo Oliveira, Leonel Olímpio, Malonga, André Santos, Marco Matias e Maazou. O Rio Ave, finalista das taças nacionais, anunciou a contratação de duas figuras que se tornarão cruciais em Vila do Conde (Cássio e Bressan) e garantiu os empréstimos de Prince-Désir e Pedro Moreira. Em Arouca, Artur (ex-Marítimo) junta-se a Goicoechea, substituto de Cássio. O Gil Vicente viu Luís Martins rumar a Granada no último dia do mercado de transferências mas conta agora com Evaldo (ex-Sporting) e Diogo Valente (por empréstimo). O Belenenses surpreendeu com a aquisição de Nélson, ex-lateral do Benfica, que assim toma o lugar de Duarte Machado. O Paços de Ferreira viu André Leão sair da "Capital do Móvel" mas deu as boas-vindas a Rafael Defendi, Sérgio Oliveira e ainda resgatou Urreta à última da hora. Quanto aos novos emblemas na Primeira Liga, o Moreirense realizou aquisições interessantes, destacando-se Rámon Cardozo, Jorge Monteiro, Danielson e Arsénio. O Penafiel espantou os adeptos com a obtenção do guardião iraniano Alireza Haghighi por empréstimo. Já o Boavista teve de se movimentar bastante neste mercado, ainda que o hondurenho Beckeles, Pouga e Tengarrinha sejam nomes a reter no conjunto orientado por Petit, ex-internacional português.
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